sábado, 17 de setembro de 2016

A outra face (por Cilene Trindade)*



A reprodução proibída de René Margritte
Pensou de repente que teria sido melhor atolar os dois pés de uma só vez na Jaca e ter se entregado ao desejo fulminante de atacar aquele rosto vampiresco de Dorian Gray que ele tinha... e ter lhe roubado alguns anos de juventude ainda não vivida! 

Para que tanto pudor? Pensou! Estava mesmo há alguns dias de se mudar dali, portanto não havia com o que se preocupar... e afinal de contas, era uma daquelas raras ardências que fazem o corpo dilatar de vontades que não deveriam ser reprimidas por nenhuma consciência, ou deveriam? Bom, não sei, mas o fato é que decidiu reprimir, e se arrependeu! Mas sabia que isso aconteceria! E achou que foi a melhor decisão naquele momento. 

E agora pensa que não foi tão ruim assim, pois que às vezes - e só às vezes - a ficção é mais gostosa do que a vida! E pôs-se, então,  a eternizar o toque das mãos tão delicadas de menino apaixonado escorregando pelo seu corpo já há alguns anos amadurecido pelas estórias por aí vividas. Aquele contraste de anos se destacava na pele de ambos e formava uma combinação deliciosa de sabores, cores e suores que nem Freud explica! 

E foi pensando dessa forma que achou por bem eternizar em palavras a vontade de tocar aquela bela face, deixando-a tornar-se um segredo Dorian Gray guardado em algum espelho de suas tantas vidas fictícias... 


*Com o peito cheio de alegria, ofereço guarida ao texto da minha querida amiga, irmã poeta Cilene Trindade! Pois todos temos nossa pitada de Dorian Gray refletida no outro.

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