Ele me encontrou. E desistiu de mim. Desistiu,
porque tinha que ir. Desistiu de mim, porque iria doer demais da conta. Me
procurou e me achou. Mas desistiu de mim na primeira oportunidade. Desistiu,
porque ninguém resiste a uma novidade. Desistiu, porque não era o momento. Desistiu
de mim, por estar sem lenço e sem documento. Desistiu de mim, para não desistir de si. E me encontrou de novo. Desta vez, não passou nem do portão.
Bateu, chamou, deixou uma carta e se foi. E desistiu de mim. De novo. Desistiu,
porque tinha uma vida para viver. Desistiu, porque eu estava ausente. Desistiu,
porque alguém tentou fazê-lo esquecer. E
conseguiu. Por algum tempo. Mas me procurou e me encontrou mais uma vez. E retornou
meteoricamente. E me atropelou. Tinha muita urgência e pouca vontade. Tinha
muito amor e pouca coragem. Tinha muita saudade e pouca atitude. E desistiu de
mim. Desistiu, porque cansou. Cansou, porque cinismo não é meu forte. Cansou de
tanto errar. Cansou, porque não quis consertar. Cansou de ouvir a verdade.
Cansou de ouvir a música. Cansou, porque fez do futuro do pretérito nosso presente. E desistiu de mim. Desistiu, porque fez de mim rocha. E cansou de ser Sísifo. Me deixou rolar montanha abaixo. Ele Desistiu... não, não desistiu. Nunca desistiu,
porque nunca lutou. Se entretia ao me achar e ao me perder. Achava o jogo
sedutor. A ilusão lhe caía bem. Mas cansou. E nunca mais me procurou. Por isso
nunca mais perdeu. E assim foi vitorioso. Liberto pelas correntes que mais estima: seu próprio orgulho.
*Baseado em ilusões reais.
3 comentários:
Pra mim o melhor até agora. Adoro esse texto.
Desistir é pra quem tentou. Quem não tentou, no máximo, abandona a ideia.
Eu sou fanática pelos seus textos, então nem precisa dizer que AMEI mais esse né? Sensacional! Obrigada por dividir isso com a gente! Falo por mim em pelos leitores anônimos que também se emocionam!
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