quinta-feira, 26 de maio de 2016

Divã*

Fonte: www.elperro1970.wordpress.com

Até que eu gosto de gente, mas não de todo mundo. Gosto de gente educada, mas não frívola. Gosto de coisas ditas, não de entrelinhas. Do muro já desci há tempos. Vocação para suíça: zero. Gosto de gente que pensa fora da caixa. De gente que despreza o convencional. Gente que ultrapassa fronteiras geográficas e veste as diferenças. Gosto de surpresas, mas não das óbvias. Meias verdades? Não, obrigada; gosto de coisas inteiras. Gosto de gente sincera com sorriso honesto. Sorriso amarelo pra mim, só se for de cuscuz. Andando pelas ruas percebo meu prazer em ser anônima. A gente toda vai e vem, todos ligados no piloto automático. Eu gosto de observá-los. E concluo que gosto sim de gente, mas não de toda ela. Gosto de gente ilimitada, generosa, empática, verdadeira. De gente egoísta, insegura, e dissimulada exijo hiato! Nada mais. Gente é bicho que me intriga. Não todos, bastam alguns. Às vezes não sabem ganhar, muitas vezes perder. Às vezes só sabem ganhar e às vezes fazem questão de perder. Vai entender! Gosto de gente visceral. Morno pra mim, nem café. Gosto de gente com abraço firme, não de carinhos frouxos. Gente anódina, definitivamente não é meu número. Poesia pra mim, só se recitada. Prosa, lida com paixão, por favor! Gosto de gente que confunde para conseguir me explicar. Essas voltas que a filosofia dá. Não gosto de gente rasa. É perigoso mergulhar nelas. Gosto de esquecer. Mas gosto sobretudo de lembrar. Memória é isso. Fazer do passado o presente por um instante. Sonho com o futuro para torná-lo agora. Gosto de incontáveis coisas, mas não de tudo. O único sentimento sem trégua, nem negociações é o que sinto por ele. Tem jeito não. Eu gosto mesmo é dele...

- Tu abririas mão de tudo, mesmo que a possibilidade de vocês ficarem juntos fosse ínfima?
- Sem garantias? Creio que não.
- Então admita que isso tudo é ilusão. Te veste bem, mas não te pertence. É o que chamo de cleptomania emocional.
- Mas como? E o que faço com todo esse sentimento?
- Devolva ao dono. Nosso tempo acabou. Teu noivo acabou de chegar.
- Até semana que vem.


                                                                                             

*Resultado de uma parceria inquieta e resistente ao tempo.

Um comentário:

disse...

Às vezes o gostar é justamente pelo outro ocupar o lugar ideal. Quando desce do pedestal, muitas vezes vemos que construímos aquela pessoa para nossas expectativas e que, de fato, ela não existe.